Argemela abraçada por centenas de pessoas

Na maioria das vezes a união dos povos é derivada de alguma catástrofe, o que é bom todavia, a tragédia já aconteceu. No caso da eventual exploração mineira da Serra da Argemela, é na opinião de muitos a tragédia que se quer evitar, daí nem a chuva, nem o frio desmobilizaram centenas de pessoas que formaram um cordão humano para abraçar a serra de Argemela, este domingo 4 de março.

Novos e velhos juntos gritavam bem alto: Argemela é nossa e há de ser até morrer, um grito que Políticos de todos os quadrantes, deputados, autarcas, muita gente anónima ouviram e que partilharam com o povo do Barco a aderir de forma massiva à manifestação pacífica.

Foi quase tocante como os escuteiros do agrupamento 31 do Barco, alguns de tenra idade apesar das condições climatéricas adversas, defendiam com convicção a luta contra a exploração mineira deste local onde muitos já brincaram e fizeram os seus jogos de escutismo.

Tratou-se de uma iniciativa de grande significado que os defensores de Argemela, particularmente, o Grupo “Pela Preservação da Serra da Argemela” e as Juntas de Freguesia da União de Freguesias de Barco e Coutada, concelho da Covilhã, Lavacolhos e Silvares, concelho do Fundão e que foi um enorme êxito.

A responsável do Grupo Pela Preservação da Serra da Argemela e promotora do protesto reiterava os inconvenientes e consequências danosas para as pessoas diretamente afetadas, “a proteção da serra é fundamental está em causa a destruição de 400 hectares, não nos podemos esquecer que esta é problemática um pouco adormecida em Portugal, porque existem vários pedidos de concessão não apenas para prospecção e pesquisa como também para exploração. Quanto a este protesto espero que os decisores políticos olhem para nós e vejam que somos pessoas que estamos aqui de pedra e cal, debaixo de chuva, e que tenham a sensibilidade para finalmente ponderar quanto à concessão destas explorações mineiras”, alertou.

O presidente da Junta da União de Freguesias de Barco e Coutada, Luís Morais, chamou à coação novos argumentos, que somou aos que já evidenciou por outras ocasiões, “a previsão aponta para três mil quilos de dinamite por dia. Depois é o transporte do material para as britadeiras e é ruído constante 24 sobre 24 horas”, realça. O autarca fez sobressair ainda o facto de, se o processo avançar na Argemela, vários projetos turísticos previstos para aquela área ficam inviabilizados, explicando de seguida, “neste momento há pessoas que compraram o terreno e estão a investir em locais aqui da zona. Já temos projetos de pessoas que fizeram a compra de casas, outros cidadãos, belgas e ingleses, também já mostraram vontade em aqui adquirir habitações e que apenas estão à espera deste processo. Se a mina avançar já não investem e estamos de falar, no mínimo de cerca de 10 milhões de euros, só nestes, para além dos 500 milhões que se derretem, que é o património construído nas aldeias do Barco e da Coutada”, defende Luís Morais.

Diversos autarcas, dirigentes dos partidos políticos, deputados, gente que acorreu de todo lado comungam da opinião que esta exploração trará mais malefícios que benefícios, mesmo criando postos de trabalho. Na verdade, os empregos para as pessoas desta zona serão muito poucos. Uma ideia também defendida pela  presidente da Junta de freguesia de Silvares, Cláudia Pereira, que  dizia não podia deixar apoiar esta iniciativa.

Depois não era preciso procurar muito para perceber que os manifestantes do Barco e das aldeias circunvizinhas partilhavam todos do mesmo sentimento, “O coração do Barco é a Serra da Argemela. Não queremos poluição aqui e isto é muito mau para a nossa aldeia” sustentavam os barquenses.

“Querem destruir a natureza que temos aqui. Há terrenos contaminados do passado, porque já vivemos esta situação, agora não vamos deixar no presente contaminar ainda mais. Mas não é só aqui que vão poluir, toda a linha do rio Zêzere vai também ficar afetada e os habitantes de Lisboa que abram os olhos porque a contaminação vai lá chegar. Haja bom senso. Quanto aos postos de trabalho, eles vão trazer máquinas e pessoal para aqui trabalhar, não é aqui que os arranjam. Temos que tentar salvar isto”, rematam alguns populares.

Este foi mais um passo dado na luta que está a ser travada contra a exploração mineira da Serra da Argemela. Resta saber se mais este protesto chega para dissuadir os que pretendem a exploração deste local.


Partilhar